quarta-feira, 30 de março de 2011

Humor involuntário?!


O tempo para aqueles que esperam é sempre uma eternidade.E em um consultório médico então,nem se fala!O ideal é ter em mãos, ou ao alcance da vista, algo que entretenha,seja um celular ,um livro, uma tv ou uma revista.Mas aos que consideram que os meios jornalísticos da chamada ''grande imprensa''(Veja,O Globo,Folha de São Paulo...) não passam de instrumentos planfletários e tendenciosos,é recomendável já sair de casa prevenido com o 'kit distração',do contrário, só terá como opções as revistas Veja ou Caras.Sim,porque deve haver alguma disciplina nos cursos de medicina tipo "Como decorar seu consultório",onde as tais revistas são indispensáveis.Hahaha. 
Se bem que a leitura de tais revistas,no caso da Veja,as vezes pode render boas risadas.Na tarde de ontem,num consultório médico,folheando a Revista Veja--acho que da semana passada--me deparei com essa pérola:

            "UM EX EXEMPLAR: A propósito,na segunda-feira passada,FHC desembarcou sozinho em Nova York e, como um mortal comum, retirou sua bagagem da esteira do aeroporto JFK.Depois,caminhou normalmente carregando sua bagagem.Nos oito anos em que foi  presidente,provavelmente nunca precisou girar uma mísera maçaneta de porta.Longe do Palácio do Planalto,é um excelente exemplo de adaptação à vida na planície"

Um doce para quem descobrir a quem o texto faz alusão!...Jornalismo apartidário,tá bom,sei.Para quem semanas atrás vinha difundindo a idéia de que Lula não conseguiria se desligar das regalias da presidência,essa notinha é um tanto...ridícula.

Que culpa o Lulinha tem por receber o grau de Doutoramento Honoris Causa,enquanto FHC fica pagando de popular no Esquenta (programa da Regina Casé)?!

















terça-feira, 22 de março de 2011

O vai e vem das palavras


Por Marta Baião

Engraçado observar como de tempos em tempos algumas palavras caem no gosto popular, enquanto outras caem em desuso,correndo o risco de serem esquecidas, ou até mesmo abolidas dos dicionários,procedimento esse comum em alguns idiomas.

Um bom exemplo de palavra marginalizada é 'eclética'.Se outrora pronunciá-la dava a sensação nas pessoas de erudição e eloquência, hoje sua simples menção soa como algo cafona.Difícil não encontrar alguém que não tenha presenciado ou sido protagonista de situações onde no afã por demonstrar um pouco de rebuscamento no linguajar (taí mais uma palavrinha em desuso!) lançou frases do tipo "meu gosto musical é eclético" no meio de um bate-papo(alguém ainda usa essa expressão?!).Ouse dizer que é 'eclético' e serás motivo de chacota.Pobrezinha dessa palavra,usaram e abusaram dela e hoje a abnegam (essa é do tempo das Cruzadas!).

Há pouco tempo dizer que determinada coisa estava 'em voga' já esteve em voga, e foi repetida a exaustão assim como o 'agregar valores' dos dias atuais.O 'maremoto' foi submergido pelo 'tsunami'.É assim o vai e vem (ou vai e fica) das palavras.

E atualmente quais seriam as palavras 'da moda'?Idiossincrasia?Sinergia?Tergiversar?Sustentabilidade?Proativo?Nerd?Geek?...Outro dia conversando com uma amiga sobre as palavras que viram 'tendência' descobrimos que 'galgar' caiu no gosto do povo de São Raimundo Nonato.Tudo que é reunião ou palestra lá está ela,a palavrinha 'galgar' como a mais nova descoberta linguística de 2011.Vamos ver até quando vai durar!

Esse 'nariz de cera' (super fora de moda...rs) todo só foi para mostrar um poema que encontrei e que achei bonito,pois mostra de uma forma simples as diversas maneiras com as quais lidamos com as palavras.




A palavra é uma roupa que a gente veste



Uns gostam de palavras curtas.

Outros usam roupa em excesso.

Existem os que jogam palavra fora.

Pior são os que usam em desalinho.

Alguns usam palavras raras.

Poucos ostentam caras.


Tem quem nunca troca.


Tem quem usa a dos outros.


A maioria não sabe o que veste.


Alguns sabem e fingem que não.


E tem quem nunca usa a roupa certa pra ocasião.


Tem os que se ajeitam bem com poucas peças.


Outros se enrolam em um vocabulário de muitas.


Tem gente que estraga tudo que usa.


E você, com quais palavras você se despe?



Viviane Mosé

quarta-feira, 16 de março de 2011

Os dissabores da timidez



Neste texto, Luís Fernando Veríssimo foi tão certeiro ao descrever algumas sensações experimentadas por aqueles sofrem de timidez aguda,especialmente nos momentos onde é preciso lidar com  público.


Por Luis Fernando Veríssimo


Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico, só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.


Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando "Não me olhem! Não me olhem!" só para chamar a atenção.

O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.

O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.

O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.
23/02/95 

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval atípico!



Por Marta Baião

A ficha custou cair.Mas sim,já é carnaval e estou em casa.Logo eu,que tenho o carnaval como uma das melhores festas populares e sou facilmente contagiada pelo espírito carnavalesco!

Quase todas as minhas experiências como foliã foram bem ao modo baiano:abadá,trio elétrico e muito axé.Aqui em São Raimundo, para quem é da geração de 1980,esse modo de fazer e viver o carnaval exerceu uma influência muito forte.Na verdade essa influência ainda predomina.

Por uma questão cultural, muitos nutrem uma visão de carnaval restrita ao estilo baiano,onde qualquer iniciativa que busque quebrar essa idéia é recebida com resistência e desdém.E durante muito tempo fui parte desse grupo.Contudo,somos metamorfoses ambulantes(como bem disse um  poeta baiano),e no desenrolar da vida nossas visões acerca do mundo e das coisas vão sofrendo mutações, por isso algumas vontades e anseios acabam sendo substituídos.

Se nos idos de minha adolescência minha vontade na época de carnaval era pôr um abadá e seguir um trio elétrico dentro de um cordão de isolamento,hoje não é mais.Não que o estilo bahiano dessa festa tenha perdido a graça e que não o considere uma forma legítima e bacana de diversão.Não é isso.A questão é que se pudesse escolher entre essa forma de diversão e a forma dos blocos de rua de Olinda e do Rio de Janeiro,ficaria com a segunda opção sem titubear.

Abadá(uniforme!) e cordão de isolamento numa festa popular lembra segregação.Por isso esses dois itens,na minha opinião,deveriam ficar limitados aos carnavais fora de época.Aos 'prés', 'rinas', 'retas' e afins da vida.Ok,ok!Eu sei que carnaval virou produto,e que hoje é assunto de mercado também.Business,business.Mas poxa,não podem deixar o carnaval oficial de fora?Doce ilusão!

O carnaval é uma festa multifacetada,plural.Reduzí-la a um determinado estilo é empobrecer demais sua riqueza cultural.Neste ano em São Raimundo Nonato a administração municipal resolveu jogar não um balde,mas um tanque de água congelando na expectativa daqueles que pretendiam cair na folia.Pasmem,não teremos festa.Tudo bem que o carnaval aqui foi antecipado,só que foi um festa de iniciativa privada.Então é outra história.

Bem que a gestão atual poderia ter dado continuidade a proposta do 'carnaval multicultural',como ocorreu em 2009 e foi super bacana.Uma festa democrática,no sentido de que todas a 'tribos' foram contempladas e puderam brincar e se divertir a sua maneira.Tivemos do axé ao frevo,passando pelas marchinhas.Isso tudo valorizando os músicos da região.Talvez se eles tivessem prosseguido com a proposta, aos poucos a população,principalmente os jovens, conseguissem ver a beleza que há nos blocos de rua,onde o passaporte pra diversão não são abadás,mas sim criatividade e espontaneidade das fantasias.