segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A consciência além da imagem


Ontem, 20 de novembro, foi o Dia da Consciência Negra,daí postei no mural do meu facebook a foto  acima, acompanhada de um 'Dia da Consciência Negra'.Pronto.Dois contatos meus,não sei por que razão,implicaram com a imagem dos três garotos negros com carinhas de serelepes. Ambos sugeriram nos  comentários que a consciência ( acredito que a minha...rs) estaria muito maltratada,judiada...não sei,talvez eles tenham focado apenas na imagem, que por sua vez parece não ter agradado muito seus olhares.Podem não ter gostado por eu  ter atrelado o dia em que se busca promover o debate e reflexão acerca dos inúmeros desdobramentos e efeitos nocivos da escravidão dos negros no Brasil à uma imagem tão 'despretensiosa'. Se para eles a foto retrata apenas miséria e pobreza, é sempre bom lembrar que se reconhecer como negro independe de condição social.Pobre ou rico o sujeito deve se reconhecer como tal.
Mas justiça seja feita: a leitura que meus amigos fizeram  pode ter sido bem diferente do que eu interpretei do comentário deles.Eu vejo muita beleza,alegria e inocência nessa foto.Meus amigos parecem que não.Isso é absolutamente normal,porque na maioria das vezes,como diz o velho clichê 'a beleza está nos olhos de quem vê'.E é bom que seja assim,pois a existência seria muito chata se todos pensassem da mesma maneira.
Para fim de conversa,desejo que o Dia da Consciência Negra se transforme num exercício diário ( e não só no 20 de novembro) de profunda reflexão e debate sobre nossos preconceitos e sobre a permanência dos frutos da escravidão, afim de combatê-los.

No vídeo abaixo uma entrevista bacana com Chico Buarque onde ele diz que 'somos todos negros'.

                                           

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Por que tão breve?


Que desgosto entrar num dos meus sites prediletos de crônicas (vidabreve) e me deparar com uma mensagem fúnebre. A mensagem como vocês podem perceber anuncia  a morte, o fim (ohhh,céus!!!), desse cantinho da web que tanto deu sabor aos meus dias,durante muitos e muitos meses.
Ainda estou aqui tentando digerir essa 'tragédia' ,e um pensamento quanto ao nome do site agita minhas ideias: talvez o nome do site agisse como porta-voz de uma 'morte' prematura.Quem sabe o nome 'vidabreve' fosse  uma espécie de mensagem subliminar aos leitores.Ou quem sabe um sutil recado: 'Vida breve,queridos leitores.Aproveitem enquanto há tempo'. 
Desde que conheci o agora falecido site, sempre associei seu nome ao gênero literário que seus ilustres colaboradores tão bem escreviam lá: crônicas. Digo isso porque assim a defino: complexidade e encanto da vida  contida em poucas palavras.E era daí que sempre achei que se justificava o 'vidabreve'.
Poxa,se esse lampejo de consciência me ocorresse antes,com certeza teria salvo todas as crônicas no meu computador.Não teria postergado tando compartilhar aqui no blog tantas leituras que me emocionaram,me fizeram rir e refletir sobre os mais variados temas.Acredito que de certa forma isso abrandaria o desapontamento que agora sinto.É,desapontamento dos grandes!!!Mil vezes desejaria que o site estive lá,vivinho da silva,ainda que sem atualizações,abandonado,jogado as traças, porém, com livre entrada para os leitores que quisessem reler suas crônicas favoritas.
Muito triste a ideia de não mais ter acesso as crônicas do Rogério Pereira, do psicodélico Carpinejar, do Humberto Werneck, da Eliane Brum --eram meus preferidos -- e de tantos outros que por lá passaram.
O certo é que hoje,sem pestanejar, posso afirmar que este é o tipo de leitura que mais gosto.Porque a crônica, como bem disse Humberto Werneck ,ela "é como uma conversa boa".


Saudade eterna, querido Vida Breve!



terça-feira, 30 de agosto de 2011

Com chave de ouro



 
( Chagas Vale )
 O primeiro Festival de Sanfona de São Raimundo Nonato terminou com chave de ouro!Durante mais uma noite ( 28 de agosto) tivemos o professor Cineas Santos como o mestre de cerimônia deste evento tão bonito para nossa cidade.Ninguém melhor do que ele para mediar as apresentações,já que o mesmo além de profundo conhecedor é entusiasta e propagador das manifestações culturais e artística do nosso Estado.
 Os sanfoneiros, que foram as estrelas da festa, deram uma pequena mostra de todo o seu talento antes do resultado dos vencedores.Sinobilino ('a pessoa com um nome desse é uma autoridade' by Chagas Vale...rs),do municipio de Dom Inocêncio foi o vencedor da categoria estudantil.Já na categoria profissional, o ganhador foi Valdemar,que realmente fez uma linda apresentação.
 E para minha alegria o festival terminou com Chagas Vale, Vagner Ribeiro e  Valor de Pi.Uoba!Esperei dois anos pra rever esses artistas maravilhosos,que tanto trabalham para não deixar morrer o que temos de mais singular e rico: nosso folclore e nossa cultura popular.Todo o reconhecimento aqueles que prezam pela manutenção de tradições salutares como estas!
 Chagas Vale emocionou o público com seu inseparável Fanhuca,um fantoche que Chagas empresta vida e carisma.A verossimilhança emoção humana do bonequinho é tão grande que em dado momento do espetáculo ele parece ser provido de alma.É uma preciosidade dentro do mundo fantástico da arte títere.
(Vagner Ribeiro e Valor de Pi)
  A apresentação de Vagner Ribeiro e Valor de Pi também foi belíssima.Tudo parece ser feito com tanto capricho e amor que não tinha como ser diferente.O figurino é lindo, os músicos são de primeira, a empolgação deles é contagiante.A melhor descrição--tirando a parte do gorjeio dos sapos-- dos shows do grupo é a do site do próprio Vagner Ribeiro:"o artista com a banda Valor de PI, consegue transpor com espontaneidade, linguagens e expressões de gente que sente o cheiro do sol, que inventa causos, que deseja o gorjeio dos sapos e que desnudam a terra de forma celestial." 


Mas a parte de todo o evento que mais fez alcandorar-me foi ver Zaqueu e Sandrinho mandando ver na sanfona.Dá-lhe emoção e vida longa ao festival da sanfona!!!!!


(Zaqueu e Sandrinho do Acordeon)



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Festival de Sanfona



Forrozeira inveterada que sou, fui tomada de ansiedade e alegria ao saber que durante os festejos de São Raimundo City seria realizado um Festival de Sanfona,onde grandes nomes do forró seriam homenageados,Luíz Gonzaga era um deles.
Depois de anos com uma programação voltada apenas para o forró estilizado,mais modernete,nada melhor do que sermos presenteados com o forró tradicional,de raíz ou pé-de-serra.Sem dúvida a melhor fórmula do forró sempre será uma zabumba,um triângulo e ela,a sanfona.'Ô trem bão,sô!'.
Ontem se iniciou o festival e quão grande surpresa tive ao ver a apresentação de Isaac Prado,um garotinho de apenas 8 anos e com um talento ímpar no domínio da sanfona.
A surpresa foi tamanha porque há uns dois meses vi um vídeo (esse que ilustra o post) onde essa fofurinha se apresentava ao lado de João Cláudio Moreno ( super hiper mega fã desse cara ) durante a festa de folguedos em Teresina. Logo imaginei o quanto seria interessante vê-los juntos mostrando todo seu talento aqui em minha cidade.E esse dia não tardou chegar,pois o primeiro dia do evento contou com a presença dessas duas gerações de talento,João Cláudio e Isaac Padro,dois artistas que me fazem sentir orgulho da cultura piauiense.

Ainda teremos mais 3 dias de muita cultura regional.Então aguardemos os próximos capítulos porque agora é hora de se preparar para mais tarde cair no forró!Fuiiiiiii

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Simples assim!


"Dentro de um abraço é sempre quente,é sempre seguro.Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e,se faltar luz,tanto melhor.Tudo que você pensa e sofre,dentro de um abraço se dissolve."

Martha Medeiros

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Da série ''faça você mesmo!"


Reutilizar,reaproveitar e recriar...eis três palavrinhas que adoro pôr em prática!Nos blogs e sites de moda e de decoração que costumo visitar, sempre me chama a atenção as seções que buscam dar uma cara nova à objetos até então esquecidos num canto qualquer da casa ou armário. Nada melhor do que dar aquele 'upgrade' naquilo que até então estava sem função alguma, a não ser ocupar espaço.

Uma caixa sem aparente utilidade, sobras de tecido e pedaços de fitas bordadas (acho que esse não é o nome,mas enfim...) podem se transformar em algo com funcionalidade.A caixinha da foto acima eu fiz para minha irmã, que além de usá-la para decorar seu armário também usa como caixa de recordação,onde guarda cartas,cartões de natal e aniversário,postais,etc.

Quem me motivou a escrever esse post foi Demarzinho,um priminho amado, que sempre faz questão de compartilhar comigo suas 'traquinagens criativas'. Hoje a tarde ele apareceu aqui em casa pedindo ajuda para 'reformar' uma caixa de MDF (que com certeza ele encontrou 'malinado' nos armários da avó...rs). O material que ele utilizou foram gravuras de um gibi da Turma da Mônica,o que me fez lembrar de minha infância quando também movida pelo desejo de criar e recriar picotei muitos gibis.Engaçado como algumas coisas não mudam,né?!

Sempre que vejo alguma criança usando a criatividade em atividade como essa penso que o poder da era dos playstations e jogos eletrônicos não é tão onipotente assim!


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Somos parte do cosmo


Por Marta Baião

Tenho uma mania antiga de anotar em cadernetas, em agendas, em folhas soltas de papel ou no computador, tudo que acho interessante ao ler ou ouvir alguma coisa. São frases, sentenças, máximas, ou apenas palavras, palavras bonitas! É uma forma de não deixar esquecido em minha memória algum pensamento ou idéia que em dado momento despertou meu interesse.

Ontem relendo algumas dessas anotações uma frase me chamou atenção:"O que é o homem na natureza?Um nada em relação ao infinito,um tudo em relação ao nada,o ponto central entre o nada e o tudo, infinitamente longe de compreendê-la". A frase é atribuída ao francês Blaise Pascal (1623-1662),que além de matemático foi filósofo,teólogo e físico. E hoje, 15 de junho de 2011, dia agraciado com um eclipse lunar, essa frase ganhou muito mais sentindo. Digo isso porque não há como observar a natureza, o universo, principalmente nestes momentos 'inusitados', sem ser consumida por sensações que vão da pequenez à grandeza humana. Pelo menos é assim que me sinto.

A sensação de pequenez advém da consciência de infinitude do Universo. Somos 'um nada em relação ao infinito'. Sim,somos pequenos!!!! Isso porque a certeza de nossa finitude nem sempre nos leva a agir com menos mesquinhez, egoísmo, intolerância e um número inesgotável de outras atitudes e sentimentos que se tornam estorvos em nossa caminhada rumo a uma vida mais 'evoluída',onde o amor será o guia mestre de nossas condutas. Quimera?Quem sabe!O certo é que não podemos perder a esperança na humanidade.

E o sentimento de grandeza humana? Bem, acho que só o fato de poder contemplar e se sentir parte desse cosmo prenhe de mistérios inesgotáveis,ininteligíveis e impalpáveis, já é um bom motivo para sentirmo-nos grandes ( e por que não importantes?!), mesmo cônscios de nossas limitações.


Pude observar o eclipse lunar quando retornava de uma caminhada. Passadas algumas horas a lua estava esplêndida, e do quintal da casa de minha avó fiquei contemplando-a numa simbiose de sensação de pequenez,grandeza e paz.


quarta-feira, 30 de março de 2011

Humor involuntário?!


O tempo para aqueles que esperam é sempre uma eternidade.E em um consultório médico então,nem se fala!O ideal é ter em mãos, ou ao alcance da vista, algo que entretenha,seja um celular ,um livro, uma tv ou uma revista.Mas aos que consideram que os meios jornalísticos da chamada ''grande imprensa''(Veja,O Globo,Folha de São Paulo...) não passam de instrumentos planfletários e tendenciosos,é recomendável já sair de casa prevenido com o 'kit distração',do contrário, só terá como opções as revistas Veja ou Caras.Sim,porque deve haver alguma disciplina nos cursos de medicina tipo "Como decorar seu consultório",onde as tais revistas são indispensáveis.Hahaha. 
Se bem que a leitura de tais revistas,no caso da Veja,as vezes pode render boas risadas.Na tarde de ontem,num consultório médico,folheando a Revista Veja--acho que da semana passada--me deparei com essa pérola:

            "UM EX EXEMPLAR: A propósito,na segunda-feira passada,FHC desembarcou sozinho em Nova York e, como um mortal comum, retirou sua bagagem da esteira do aeroporto JFK.Depois,caminhou normalmente carregando sua bagagem.Nos oito anos em que foi  presidente,provavelmente nunca precisou girar uma mísera maçaneta de porta.Longe do Palácio do Planalto,é um excelente exemplo de adaptação à vida na planície"

Um doce para quem descobrir a quem o texto faz alusão!...Jornalismo apartidário,tá bom,sei.Para quem semanas atrás vinha difundindo a idéia de que Lula não conseguiria se desligar das regalias da presidência,essa notinha é um tanto...ridícula.

Que culpa o Lulinha tem por receber o grau de Doutoramento Honoris Causa,enquanto FHC fica pagando de popular no Esquenta (programa da Regina Casé)?!

















terça-feira, 22 de março de 2011

O vai e vem das palavras


Por Marta Baião

Engraçado observar como de tempos em tempos algumas palavras caem no gosto popular, enquanto outras caem em desuso,correndo o risco de serem esquecidas, ou até mesmo abolidas dos dicionários,procedimento esse comum em alguns idiomas.

Um bom exemplo de palavra marginalizada é 'eclética'.Se outrora pronunciá-la dava a sensação nas pessoas de erudição e eloquência, hoje sua simples menção soa como algo cafona.Difícil não encontrar alguém que não tenha presenciado ou sido protagonista de situações onde no afã por demonstrar um pouco de rebuscamento no linguajar (taí mais uma palavrinha em desuso!) lançou frases do tipo "meu gosto musical é eclético" no meio de um bate-papo(alguém ainda usa essa expressão?!).Ouse dizer que é 'eclético' e serás motivo de chacota.Pobrezinha dessa palavra,usaram e abusaram dela e hoje a abnegam (essa é do tempo das Cruzadas!).

Há pouco tempo dizer que determinada coisa estava 'em voga' já esteve em voga, e foi repetida a exaustão assim como o 'agregar valores' dos dias atuais.O 'maremoto' foi submergido pelo 'tsunami'.É assim o vai e vem (ou vai e fica) das palavras.

E atualmente quais seriam as palavras 'da moda'?Idiossincrasia?Sinergia?Tergiversar?Sustentabilidade?Proativo?Nerd?Geek?...Outro dia conversando com uma amiga sobre as palavras que viram 'tendência' descobrimos que 'galgar' caiu no gosto do povo de São Raimundo Nonato.Tudo que é reunião ou palestra lá está ela,a palavrinha 'galgar' como a mais nova descoberta linguística de 2011.Vamos ver até quando vai durar!

Esse 'nariz de cera' (super fora de moda...rs) todo só foi para mostrar um poema que encontrei e que achei bonito,pois mostra de uma forma simples as diversas maneiras com as quais lidamos com as palavras.




A palavra é uma roupa que a gente veste



Uns gostam de palavras curtas.

Outros usam roupa em excesso.

Existem os que jogam palavra fora.

Pior são os que usam em desalinho.

Alguns usam palavras raras.

Poucos ostentam caras.


Tem quem nunca troca.


Tem quem usa a dos outros.


A maioria não sabe o que veste.


Alguns sabem e fingem que não.


E tem quem nunca usa a roupa certa pra ocasião.


Tem os que se ajeitam bem com poucas peças.


Outros se enrolam em um vocabulário de muitas.


Tem gente que estraga tudo que usa.


E você, com quais palavras você se despe?



Viviane Mosé

quarta-feira, 16 de março de 2011

Os dissabores da timidez



Neste texto, Luís Fernando Veríssimo foi tão certeiro ao descrever algumas sensações experimentadas por aqueles sofrem de timidez aguda,especialmente nos momentos onde é preciso lidar com  público.


Por Luis Fernando Veríssimo


Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico, só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.


Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando "Não me olhem! Não me olhem!" só para chamar a atenção.

O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.

O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.

O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.
23/02/95 

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval atípico!



Por Marta Baião

A ficha custou cair.Mas sim,já é carnaval e estou em casa.Logo eu,que tenho o carnaval como uma das melhores festas populares e sou facilmente contagiada pelo espírito carnavalesco!

Quase todas as minhas experiências como foliã foram bem ao modo baiano:abadá,trio elétrico e muito axé.Aqui em São Raimundo, para quem é da geração de 1980,esse modo de fazer e viver o carnaval exerceu uma influência muito forte.Na verdade essa influência ainda predomina.

Por uma questão cultural, muitos nutrem uma visão de carnaval restrita ao estilo baiano,onde qualquer iniciativa que busque quebrar essa idéia é recebida com resistência e desdém.E durante muito tempo fui parte desse grupo.Contudo,somos metamorfoses ambulantes(como bem disse um  poeta baiano),e no desenrolar da vida nossas visões acerca do mundo e das coisas vão sofrendo mutações, por isso algumas vontades e anseios acabam sendo substituídos.

Se nos idos de minha adolescência minha vontade na época de carnaval era pôr um abadá e seguir um trio elétrico dentro de um cordão de isolamento,hoje não é mais.Não que o estilo bahiano dessa festa tenha perdido a graça e que não o considere uma forma legítima e bacana de diversão.Não é isso.A questão é que se pudesse escolher entre essa forma de diversão e a forma dos blocos de rua de Olinda e do Rio de Janeiro,ficaria com a segunda opção sem titubear.

Abadá(uniforme!) e cordão de isolamento numa festa popular lembra segregação.Por isso esses dois itens,na minha opinião,deveriam ficar limitados aos carnavais fora de época.Aos 'prés', 'rinas', 'retas' e afins da vida.Ok,ok!Eu sei que carnaval virou produto,e que hoje é assunto de mercado também.Business,business.Mas poxa,não podem deixar o carnaval oficial de fora?Doce ilusão!

O carnaval é uma festa multifacetada,plural.Reduzí-la a um determinado estilo é empobrecer demais sua riqueza cultural.Neste ano em São Raimundo Nonato a administração municipal resolveu jogar não um balde,mas um tanque de água congelando na expectativa daqueles que pretendiam cair na folia.Pasmem,não teremos festa.Tudo bem que o carnaval aqui foi antecipado,só que foi um festa de iniciativa privada.Então é outra história.

Bem que a gestão atual poderia ter dado continuidade a proposta do 'carnaval multicultural',como ocorreu em 2009 e foi super bacana.Uma festa democrática,no sentido de que todas a 'tribos' foram contempladas e puderam brincar e se divertir a sua maneira.Tivemos do axé ao frevo,passando pelas marchinhas.Isso tudo valorizando os músicos da região.Talvez se eles tivessem prosseguido com a proposta, aos poucos a população,principalmente os jovens, conseguissem ver a beleza que há nos blocos de rua,onde o passaporte pra diversão não são abadás,mas sim criatividade e espontaneidade das fantasias.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Nem tão bom,nem tão ruim

Por Marta Baião

Dizem que expectativas em demasia é o caminho mais curto para alcançar a frustração.Ao assistir 5x favela - agora por nós mesmos,posso dizer que não me senti propriamente frustada,mas fiquei a anos-luz de encontrar o que esperava.

O filme é resultado de um trabalho de ONGs em comunidades carentes do Rio de Janeiro,que tem como objetivo incentivar a produção e difusão do audiovisual entre os moradores.Assim,o longa foi produzido por jovens estudantes de cinema selecionados em diversas oficinas cinematográficas.

O 'agora por nós mesmos' do título me fez nutrir muitas expectativas.Cheguei até a sugerir a um amigo que adquirisse o filme para sua locadora.Partindo do ponto de que agora a favela seria vista e mostrada através do trabalho daqueles que dela são parte,pensei que teríamos uma abordagem menos estereotipada.Menos violência,menos crime,menos tráfico,enfim.

Por mais que o tripé violência,crime e tráfico esteja enraizado no cotidiado dessas comunidades,acreditei que outros aspectos sociais e humanos seriam enfocados,ou teriam mais visibilidade.Como o filme é uma espécie de compilação de curtametragens(cinco curtas),variando o tempo deles entre 15 a 20 minutos,sem dúvida houve sim uma tentativa,ainda que tímida,neste sentido.Um exemplo é o último curta,Acende a Luz,onde um lado mais leve,descontraído e de personagens mais divertidos foi retratado.

No geral predomina o que já estamos acostumados(ou seria cansados?!) de ver no cinema quando o assunto são as comunidades do Rio.Não que estes assuntos tão espinhosos a todos nós não devam ser mostrados.É evidente que sim.O que acho incômodo é perpetuar essa noção de que nos cinemas a favela só pode ser encarada sob uma ótica pessimista.

Por outro lado, é bacana ver jovens de uma realidade social marcada pelo abandono histórico do poder público provando que são capazes, e podem sim, produzir cinema num âmbito comercial.Sem falar que o filme tem uma fotografia bonita,além de algumas cenas onde transborda a sensibilidade poética.Pode soar como contraditório,mas a cena como maior força poética está justamente no episódio mais violento e trágico do filme:Concerto para Violino.(Não faço a linha spoiler,por isso não darei mais detalhes da cena...rs)

Então é isso.Agora é torcer para que em empreendimentos vindouros esta ou outras turmas de jovens cineastas esteja menos engessada a idéia de que,nas telas, a violência,o crime e o tráfico das favelas é que são rentáveis e merecem espaço.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Dilema diário



Por Marta Baião

Quem nunca se deparou com um verso de poema,refrão de uma música ou trecho de um texto que definisse exatamente seu estado de espírito?É como se o mínimo palavras tivesse a capacidade de definir situações com tanta maestria que nem a mais prolixa das escritas seria capaz de atingir.As vezes o mais tortuoso dos sentimentos pode ser expresso em parcas palavras.E eis aqui talvez a melhor definição para os meus primeiros dias de 2011:

"A razão é sempre mesquinha perto do sentimento.Uma é naturalmente limitada,como tudo que é positivo,e o outro é infinito.Raciocinar onde é necessário sentir é próprio das almas sem alcance". Honoré de Balzac

A vida exige de nós equilíbrio e sabedoria,isso é fato.Saber ponderar razão e emoção/sentimentos sempre nos foi passado como a melhor direção a ser seguida.Mas quão é árdua tal caminhada!Nunca sabemos ao certo quando a razão deve ceder espaço em nossa vida aos sentimentos.Nem ao menos conseguimos medir com clareza os danos que os excessos de um ou do outro podem nos causar.Ou será que não é por sabê-los que estamos numa constante busca pela hamornia?!

Por outro lado, estar em permanente alerta,tentando equilibrar a balança de nossas ações cotidiana é uma chatice das grandes,por isso mesmo talvez a melhor indicação neste momento seja a de Balzac:deixe os sentimentos sobrepujar a razão!Nossa efémera existência necessita de emoção,poesia e em certa medida, desequilíbrio.

Se acaso se direcionar por tal caminho trouxer danos, não há o que temer,afinal, a razão estará ali,logo ao lado,auxiliando no caminho de volta.

Viver requer emoção!